sábado, 26 de janeiro de 2008

Quanto custa aquecer o planeta?

Afonso Capelas Jr.

Planeta Sustentável - 18/01/2008

A conversa entre Carlos Nobre e José Eli, realizada no Auditório da Editora Abril - apenas para funcionários e convidados -, foi muito boa e revelou importantes pontos do pensamento dos dois especialistas. No ano passado, eles já haviam se encontrado na Sabatina do jornal Folha de São Paulo com Carlos Nobre, na qual Veiga foi um de seus entrevistadores. Desta vez, os dois tiveram uma oportunidade especial para discutir sobre um tema tão caro a ambos. (*)Entre os convidados, estavam Fernando Papa e Josefina Luiza Papa - Fifa, como sempre, atentos quando o assunto é meio ambiente. Aqui, você lê alguns dos principais pontos levantados nesse encontro.

Carlos Nobre, pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - Inpe e um dos cientistas participantes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas - IPCC (sigla em inglês), deu início à discussão explicando o que é o aquecimento global a uma platéia atenta, formada por funcionários da Abril e convidados - que lotou o auditório. "O grande acontecimento dos últimos séculos é o uso de combustíveis fósseis para gerar conforto e bem estar. Mas tal fato tem representado a emissão de bilhões de toneladas de gases na atmosfera. O problema principal são os gases que permanecem no ar por longos períodos - especialmente o CO² -, que estão contribuindo para aquecer o planeta e provocar mudanças climáticas indesejáveis", revelou.

De acordo com o último relatório do IPCC, divulgado no ano passado, para diminuir e estabilizar as emissões de CO² os países teriam que desacelerar suas economias em 0,12% ao ano, o equivalente a 3% do PIB mundial em 2030. Diante disso, o curador do Planeta Sustentável e redator-chefe da National Geographic Brasil, Matthew Shirts, que mediou o debate, propôs uma questão aos participantes: "Do ponto de vista econômico, o que o Brasil pode fazer para reverter a situação do aquecimento global?".

Não temos mais escolha. A situação do planeta é tão crítica que torna urgente e necessária tanto a procura por formas de adaptação aos impactos do aquecimento global, como, também, de mitigação. E não há como calcular os custos dessas ações, principalmente pelo fato de que poucos são os economistas que realmente se interessam pelo tema, no mundo. Mas não há dúvida de que esses custos são/serão altíssimos. Com mais um detalhe: para quem ficará a conta do impacto nos países mais pobres do planeta?

A conversa entre Carlos Nobre e José Eli, realizada no Auditório da Editora Abril - apenas para funcionários e convidados -, foi muito boa e revelou importantes pontos do pensamento dos dois especialistas. No ano passado, eles já haviam se encontrado na Sabatina do jornal Folha de São Paulo com Carlos Nobre, na qual Veiga foi um de seus entrevistadores. Desta vez, os dois tiveram uma oportunidade especial para discutir sobre um tema tão caro a ambos. Aqui, você lê alguns dos principais pontos levantados nesse encontro.

Carlos Nobre, pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - Inpe e um dos cientistas participantes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas - IPCC (sigla em inglês), deu início à discussão explicando o que é o aquecimento global a uma platéia atenta, formada por funcionários da Abril e convidados - que lotou o auditório. "O grande acontecimento dos últimos séculos é o uso de combustíveis fósseis para gerar conforto e bem estar. Mas tal fato tem representado a emissão de bilhões de toneladas de gases na atmosfera. O problema principal são os gases que permanecem no ar por longos períodos - especialmente o CO2 -, que estão contribuindo para aquecer o planeta e provocar mudanças climáticas indesejáveis", revelou.

De acordo com o último relatório do IPCC, divulgado no ano passado, para diminuir e estabilizar as emissões de CO2 os países teriam que desacelerar suas economias em 0,12% ao ano, o equivalente a 3% do PIB mundial em 2030. Diante disso, o curador do Planeta Sustentável e redator-chefe da National Geographic Brasil, Matthew Shirts, que mediou o debate, propôs uma questão aos participantes: "Do ponto de vista econômico, o que o Brasil pode fazer para reverter a situação do aquecimento global?".

José Eli da Veiga, economista e professor da Faculdade de Economia da USP - onde criou e coordenou o Núcleo de Economia Sociambiental (Nessa) opinou: "Se realmente o IPCC estiver certo (e há controvérsias sobre isso), será mesmo necessário encontrar soluções econômicas. Entretanto, o número de economistas dos centros de pesquisas brasileiros preocupados com as mudanças climáticas é irrisório. Nem mesmo os nossos alunos de economia demonstram interesse pelo assunto".

Para Nobre, o Brasil enfrentará altos custos de adaptação às mudanças climáticas em vários aspectos. "Não é ficção científica! Já está acontecendo. O maior exemplo é a Holanda, que tem desembolsado bilhões de euros apenas para elaborar estudos iniciais de adaptação ao aumento do nível dos mares provocado pelo aquecimento global", revelou. Para ele, os países ricos do hemisfério Norte são os grandes responsáveis pelo aquecimento global - já que consomem mais combustíveis fósseis -, mas quem vai pagar a conta das conseqüências serão países pobres como os da África e Ásia. "Nações economicamente menos favorecidas precisarão buscar soluções mais adequadas aos seus recursos escassos. Bangladesh, por exemplo, é a que menos emite CO2 e a que mais sofre economicamente com as mudanças climáticas. Há até quem brinque afirmando que, diante da elevação dos oceanos, esse país só terá condições de implementar cursos de natação em massa para sua população".

Os debatedores concordam que o preço do aumento do CO2 na atmosfera será alto para todos os países. "Entretanto, ainda não existe uma estimativa séria sobre esses custos em nenhum país do mundo", disse José Eli. Quanto ao Brasil, o climatologista Nobre acredita que os custos também não serão nada desprezíveis e sugeriu a criação de um programa nacional voltado à adaptação e à mitigação dos problemas advindos do aquecimento global, como os que já existem para a erradicação da fome e da pobreza no país. "Será preciso, também, investir pesadamente em ciência e tecnologia para buscar soluções que amenizem o impacto das mudanças climáticas. E isso não é para daqui a alguns anos, temos que nos preparar já", advertiu. Nesse ponto, o economista foi mais além: sugeriu que haja cooperação internacional envolvendo o Brasil e os principais países do mundo. "Será preciso implementar um plano de esforço coletivo, nos moldes do Projeto Manhatan desenvolvido durante a Segunda Guerra Mundial".

A questão da ética também foi abordada durante o debate. Carlos Nobre ressaltou que o homem não é a única espécie viva na Terra e que, por isso mesmo, há outras vidas em jogo. "O aquecimento global traz ameaças de produzirmos extinção em massa nos próximos anos". Ele salientou que é fraco o argumento dos cientistas mais céticos de que já houve extinção de espécies em outros períodos do planeta por mudanças ambientais naturais, como o extermínio dos dinossauros. "Estou plenamente convencido de que somos nós que estamos provocando as mudanças climáticas. A questão ética é saber se queremos ser responsáveis por essa extinção. Eu particularmente não quero levar essa culpa", desabafou.

As controvérsias ficaram por conta de como a humanidade poderá se adaptar ao que vem pela frente. "As mudanças ambientais que estamos provocando podem ser permanentes e isso é muito preocupante quando se pensa no bem estar das futuras gerações", alertou Nobre. Já o economista José Eli da Veiga foi fundo na questão do comportamento humano. "O problema dessas adaptações que os cientistas do IPCC propõem é que a maior parte do que gostamos em nosso dia-a-dia tem efeito direto sobre a diminuição de nossa permanência no plantea. Ninguém quer abrir mão dessas preferências". E desafiou: "Se nem ao menos conseguimos nos livrar de fenômenos como as guerras, como vamos frear nossa trajetória de insustentabilidade?".

Não temos mais escolha. A situação do planeta é tão crítica que torna urgente e necessária tanto a procura por formas de adaptação aos impactos do aquecimento global, como, também, de mitigação. E não há como calcular os custos dessas ações, principalmente pelo fato de que poucos são os economistas que realmente se interessam pelo tema, no mundo. Mas não há dúvida de que esses custos são/serão altíssimos. Com mais um detalhe: para quem ficará a conta do impacto nos países mais pobres do planeta?

A conversa entre Carlos Nobre e José Eli, realizada no Auditório da Editora Abril - apenas para funcionários e convidados -, foi muito boa e revelou importantes pontos do pensamento dos dois especialistas. No ano passado, eles já haviam se encontrado na Sabatina do jornal Folha de São Paulo com Carlos Nobre, na qual Veiga foi um de seus entrevistadores. Desta vez, os dois tiveram uma oportunidade especial para discutir sobre um tema tão caro a ambos. Aqui, você lê alguns dos principais pontos levantados nesse encontro.

Carlos Nobre, pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - Inpe e um dos cientistas participantes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas - IPCC (sigla em inglês), deu início à discussão explicando o que é o aquecimento global a uma platéia atenta, formada por funcionários da Abril e convidados - que lotou o auditório. "O grande acontecimento dos últimos séculos é o uso de combustíveis fósseis para gerar conforto e bem estar. Mas tal fato tem representado a emissão de bilhões de toneladas de gases na atmosfera. O problema principal são os gases que permanecem no ar por longos períodos - especialmente o CO2 -, que estão contribuindo para aquecer o planeta e provocar mudanças climáticas indesejáveis", revelou.

De acordo com o último relatório do IPCC, divulgado no ano passado, para diminuir e estabilizar as emissões de CO2 os países teriam que desacelerar suas economias em 0,12% ao ano, o equivalente a 3% do PIB mundial em 2030. Diante disso, o curador do Planeta Sustentável e redator-chefe da National Geographic Brasil, Matthew Shirts, que mediou o debate, propôs uma questão aos participantes: "Do ponto de vista econômico, o que o Brasil pode fazer para reverter a situação do aquecimento global?".

José Eli da Veiga, economista e professor da Faculdade de Economia da USP - onde criou e coordenou o Núcleo de Economia Sociambiental (Nessa) opinou: "Se realmente o IPCC estiver certo (e há controvérsias sobre isso), será mesmo necessário encontrar soluções econômicas. Entretanto, o número de economistas dos centros de pesquisas brasileiros preocupados com as mudanças climáticas é irrisório. Nem mesmo os nossos alunos de economia demonstram interesse pelo assunto".

Para Nobre, o Brasil enfrentará altos custos de adaptação às mudanças climáticas em vários aspectos. "Não é ficção científica! Já está acontecendo. O maior exemplo é a Holanda, que tem desembolsado bilhões de euros apenas para elaborar estudos iniciais de adaptação ao aumento do nível dos mares provocado pelo aquecimento global", revelou. Para ele, os países ricos do hemisfério Norte são os grandes responsáveis pelo aquecimento global - já que consomem mais combustíveis fósseis -, mas quem vai pagar a conta das conseqüências serão países pobres como os da África e Ásia. "Nações economicamente menos favorecidas precisarão buscar soluções mais adequadas aos seus recursos escassos. Bangladesh, por exemplo, é a que menos emite CO² e a que mais sofre economicamente com as mudanças climáticas. Há até quem brinque afirmando que, diante da elevação dos oceanos, esse país só terá condições de implementar cursos de natação em massa para sua população".

Os debatedores concordam que o preço do aumento do CO² na atmosfera será alto para todos os países. "Entretanto, ainda não existe uma estimativa séria sobre esses custos em nenhum país do mundo", disse José Eli. Quanto ao Brasil, o climatologista Nobre acredita que os custos também não serão nada desprezíveis e sugeriu a criação de um programa nacional voltado à adaptação e à mitigação dos problemas advindos do aquecimento global, como os que já existem para a erradicação da fome e da pobreza no país.

"Será preciso, também, investir pesadamente em ciência e tecnologia para buscar soluções que amenizem o impacto das mudanças climáticas. E isso não é para daqui a alguns anos, temos que nos preparar já", advertiu. Nesse ponto, o economista foi mais além: sugeriu que haja cooperação internacional envolvendo o Brasil e os principais países do mundo. "Será preciso implementar um plano de esforço coletivo, nos moldes do Projeto Manhatan desenvolvido durante a Segunda Guerra Mundial".

A questão da ética também foi abordada durante o debate. Carlos Nobre ressaltou que o homem não é a única espécie viva na Terra e que, por isso mesmo, há outras vidas em jogo. "O aquecimento global traz ameaças de produzirmos extinção em massa nos próximos anos". Ele salientou que é fraco o argumento dos cientistas mais céticos de que já houve extinção de espécies em outros períodos do planeta por mudanças ambientais naturais, como o extermínio dos dinossauros. "Estou plenamente convencido de que somos nós que estamos provocando as mudanças climáticas. A questão ética é saber se queremos ser responsáveis por essa extinção. Eu particularmente não quero levar essa culpa", desabafou.

As controvérsias ficaram por conta de como a humanidade poderá se adaptar ao que vem pela frente. "As mudanças ambientais que estamos provocando podem ser permanentes e isso é muito preocupante quando se pensa no bem estar das futuras gerações", alertou Nobre. Já o economista José Eli da Veiga foi fundo na questão do comportamento humano. "O problema dessas adaptações que os cientistas do IPCC propõem é que a maior parte do que gostamos em nosso dia-a-dia tem efeito direto sobre a diminuição de nossa permanência no plantea. Ninguém quer abrir mão dessas preferências". E desafiou: "Se nem ao menos conseguimos nos livrar de fenômenos como as guerras, como vamos frear nossa trajetória de insustentabilidade?".

"Será preciso, também, investir pesadamente em ciência e tecnologia para buscar soluções que amenizem o impacto das mudanças climáticas. E isso não é para daqui a alguns anos, temos que nos preparar já", advertiu. Nesse ponto, o economista foi mais além: sugeriu que haja cooperação internacional envolvendo o Brasil e os principais países do mundo. "Será preciso implementar um plano de esforço coletivo, nos moldes do Projeto Manhatan desenvolvido durante a Segunda Guerra Mundial".

A questão da ética também foi abordada durante o debate. Carlos Nobre ressaltou que o homem não é a única espécie viva na Terra e que, por isso mesmo, há outras vidas em jogo. "O aquecimento global traz ameaças de produzirmos extinção em massa nos próximos anos". Ele salientou que é fraco o argumento dos cientistas mais céticos de que já houve extinção de espécies em outros períodos do planeta por mudanças ambientais naturais, como o extermínio dos dinossauros. "Estou plenamente convencido de que somos nós que estamos provocando as mudanças climáticas. A questão ética é saber se queremos ser responsáveis por essa extinção. Eu particularmente não quero levar essa culpa", desabafou.

As controvérsias ficaram por conta de como a humanidade poderá se adaptar ao que vem pela frente. "As mudanças ambientais que estamos provocando podem ser permanentes e isso é muito preocupante quando se pensa no bem estar das futuras gerações", alertou Nobre. Já o economista José Eli da Veiga foi fundo na questão do comportamento humano. "O problema dessas adaptações que os cientistas do IPCC propõem é que a maior parte do que gostamos em nosso dia-a-dia tem efeito direto sobre a diminuição de nossa permanência no plantea. Ninguém quer abrir mão dessas preferências". E desafiou: "Se nem ao menos conseguimos nos livrar de fenômenos como as guerras, como vamos frear nossa trajetória de insustentabilidade?".

Texto: Afonso Capelas Jr.

Foto: Alexandre Battibugli - Planeta Sustentável

(*) O grifo é nosso

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